Sociedade das Palavras Não Ditas

Felype Afonso
3 min readOct 27, 2020

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Contraditório, silencioso e dolorido, mas real e ardente é o amor nascido da amizade

Reprodução: Sociedade das Palavras Não ditas/Capa

Talvez seja uma referência musical menos “culta” se comparada àquelas que o próprio livro traz. Mas história inteira me lembrou a música A Raposa e as Uvas de Reginaldo Rossi, lançada em 1982. Isso porque tanto a música quanto o livro falam de amor à moda antiga. A obra conta a história do jovem Talles que, sem ter como fazer seu pai, um militar do Exército, desistir da decisão de mudar de cidade mais uma vez, se vê obrigado a deixar para trás sua primeira namorada e ir morar numa cidade no meio da selva amazônica. E, assim como na música, a história se desenrola enquanto o protagonista transa algumas cubas-libres.

Acredito que terão três principais tipos de experiências dos leitores ao se conectarem com a história narrada por Talles durante sua juventude em Marabá/PA: A de quem já conhecia a história de vida do autor (Anthony Péricles), a de quem viveu em Marabá na mesma época e a de quem está conhecendo o autor agora nesta sua estréia literária.

Por exemplo eu — que me encaixo ali no pacote daqueles que conhecem um pouco da história de vida do autor — até o meio do terceiro capítulo, quando o protagonista (Talles) revela seu nome, estava quase acreditando que Anthony escrevia sobre sua própria vida. O livro é uma coletânea de memórias, mas não é uma autobiografia maquiada. São memórias que realmente aconteceram e, ouso dizer, memórias de acontecimentos que foram reescritos para serem como o autor gostaria que tivessem sido.

Já quem teve o segundo tipo de experiência certamente será transportado ao final dos anos 1970. Reconhecendo e mentalizando lugares, se familiarizando com alguns personagens, se envolvendo com o momento histórico… acredito que seja uma experiência pessoal e imersiva. Este leitor tem repertório o suficiente para capturar muitas palavras não escritas no livro.

Mas para quem embarcou na obra sem bagagem alguma, deve interpretar a coletânea das memórias como um rico background para a história de Talles e seus amigos. Estas pessoas irão capturar palavras não escritas menos intimistas do autor e mais ficcionais da obra, mas eu adoraria me reunir com algum destes leitores para saber quais as palavras não escritas elas conseguiram interpretar.

No final da leitura fica aquela sensação boa (um sorriso no rosto!) de ler um livro leve, mas rico em figuras de linguagem, ótimas referências musicais e literárias e aprendizados para a vida. É o tipo de obra que se for lida mais de uma vez, traz novas interpretações. Afinal, não por acaso, ela está recheada de palavras não escritas.

O livro Sociedade das Palavras Não Ditas está disponível para venda em versão na R$8,90 na Amazon, e se você assina Kindle Unlimited pode lê-lo gratuitamente. Clique aqui e leia agora!

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